Passos
Avenidas
Pros que estão em casa
Gritos
Sol
Pessoas
Roma
A lei
Setembro
Tempestade em Viena
Senhora feliz
A pele
Fogo
Cinzas que queimam
Canção da torre mais alta
A verdade simples
Pecados
Belos e malditos
Tempo que passa
Em torno da mesma volta





Passos

não espere
que algum dia eu lhe sirva
numa bandeja tudo que
você esperou
eu posso ser
o amor e o ódio
ou apenas o ódio
e o amor

você gosta
de se olhar no espelho
você acaricia seu corpo
eu reneguei toda dor
que senti
e sou o ouro
fogo gelado

não consigo entender
meus passos
não consigo
pra onde vou ?
onde vou ?

seu amor
é diferente
pode dar a qualquer um
com aqueles que
lhe cercam
ou algo
que lhe dê prazer

você confia
em seu melhor amigo,
ou na sua existência ?
você prefere
um deserto, um deserto
ou
duas metrópoles

não consigo
entender meus passos
não consigo
pra onde vou ?
onde vou ?

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Avenidas

rondas sem fronte
um surgir, outro rio
paciente aches
onde quer colidir
avenidas, andes ao réu
aveni
tutor des(te) leque
abane seus destinos
detalhe nas vestes
do coliseu sem felinos
avenidas, andes ao céu
aveni

mãos que estendem
mãos que espremem
suas telas de teor plural
quantas delas faz um underground
onde o crime, se vier
seja obra sem nenhum sinal

fugir, que a fera segue-te sim
na névoa lisa e vã

ocupas um nome
a consumir todo signo
saliente face
despe-te ante o vício
avenidas, andes ao réu
aveni
humor descreves
ao refletir seus pupilos
hoje: a prece
amanhã: seu delito
avenidas, andes ao céu

mãos que estendem
mãos que espremem
suas telas de teor plural
quantas delas faz um underground
onde o crime, se vier
seja obra sem nenhum final

surgir na névoa
o servo e o mito
e cobram o riso e choram
fugir na névoa
névoa, névoa
de forma lisa e vã

[topo da página]



Pros que Estão em Casa

até bem cedo
esperei pelo telefonema
tapando com peneira
o sol que vai nascendo

não vou tomar café
nem escovar os dentes
vou de aguardente
como o sol que queima a praça

bom dia, boa tarde
good night, quero dar um tapa
de topete e cara
vi nova york internada

meu amor não deu em nada
minhas sobrancelhas eriçadas
e a essa altura do fato
nem fumaça tem cano de descarga

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Gritos

ouço gritos
de onde vêm os gritos?
bordam risos, espaços e abrigos
louvam sinos, por quem que ardem os sinos?
e cantam hinos
da pátria dos vencidos
tocam um louco final,
que faz o unir de punidos mortais
e o que o som dirá?
dizeis, dizeis
hum, um refrão raivoso virá
canteis, dançais
eviteis um engano agora
como  em tudo

ouço gritos
que trazem um aviso
mordem caminhos, preferem os baldios
forjam ninhos, refúgio dos aflitos
e servem ao cio
fogueiras de perigo
bebem a todo suor
que a febre possui, como um cálice de vinho
e que o sermão dirá?
dizeis, dizeis
hum, se o pior encanto vingar,
volteis atrás
eviteis um engano agora
como  em tudo

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Sol

céus encobertos me fazem lembrar
cortinas de sonhos me fazem lembrar
que um dia esbarrei e deixei por aqui
rasgando o escuro um sopro de luz

suas sementes me fazem provar
férteis serão em bocas de sim
acima de tudo, o todo alcançar
um breve silêncio os faz sufocar

mil clarões estão por vir
mil promessas vi partir
mil clarões estão por vir
será um deus o sol ?

mil clarões por vir
será um deus o sol ?
quem o vê subir
verá um dia chover no sol

breve para ti
será talvez o sol
prece para ti
será um dia talvez o sol

como gaivota acima do mar
vivo em busca da presa
do ventre, da dor
extrai o calor de um novo desejo
do velho sabor
o vil pescador mergulhou no seu leito

passe por mim, passe por trás
corres para mim tarde demais
atravessei-te limbo
e atravessei-te rindo

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Pessoas

pessoas a minha volta
escravos da mesmice
o cheiro da derrota
gestos estudados
e tão pouco parece muito
e tão pouco parece muito

caminham em bandos guiados
pelo acorde monocórdico
de uma lei que está oculta
mas todos obedecem
tudo me parece pendente
como um pescoço depois de enforcado
pode ser que deus goste de mim
mas o demonio é meu próximo

e hoje resolvi sentar
numa das pontas da lua minguante
sente na outra
por favor
eu sou o dito mal
você o bem
acredito que os dois lados existam
como os dois lados de uma moeda
que já não tem valor

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Roma

agora eu sei o ponto em que cheguei
certas pessoas me assustam
não pelas rugas que se espalham no rosto
mas os anos se passaram
os anos se passaram e elas nada entenderam
e continuam pintando os seus cabelos
o tempo é outro e as esperanças ficaram
dentro do quarto
ou na lâmina de uma gilete

tão breves
tão distantes
os beijos do mundo
eternos hesitantes
fingidos pelo mundo

agora eu sei o ponto em que cheguei
certas pessoas me acusam
só pelo uso que faço do corpo
mas os olhos se fecharam
os mesmos olhos que choram os mortos
use melhor as suas lágrimas
com esse mundo que te rodeia
ou com a dor do teu ofício
ou a dor do sacrifício

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A Lei

existe um lar que se descobre um mundo
envolve o risco de quem vê o fundo
não é azul
não é azul, sincero
só em meu canto
por trás do globo que
reflete o poço
jogo a moeda que lhe pede o troco
recolho a mão que num momento erra
só por um sonho
tiveste naquela chuva que não deitou
a rua em seu joelho, e acalentou
o pranto que brota intenso
daquele asfalto e colheis
um grão risonho e pleno
não o joio em que regas
a lei

em quanto tempo se
constrói um mundo
sem cicatrizes que preservam
o impuro
devolve em cor
devolve em cor, me entregue
só o encanto
que seja a face que
não se esgote rumo
a comunhão em que se veste
o culto
a solidão é uma paixão por si
dorme em meu canto
esquece aquela culpa que se lamentou
da curra pelo conceito de estar e se pôr
nas avenidas retas
desgovernado irei
qual a palavra certa?
será aquela que
atropela a lei,
a lei

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Setembro

onde cais, setembro?
nos pingos que fazem alternar
o pesar que nega o frio
ao riso convidar!
entre raios que agitam
serpentinas em luto
entre elas o limite
primavera negue a flor

rente em ser, vai sem dizer,
o aroma onde está!
mente em ser tão sã,
ao dizer a festa como está

calem, entre os ventos que
te cospem o ar
calem, entre os ventos que
te cospem o ar

encontrar setembro
um ponto a alcançar
na dormência que expande o
brilho do oceano ao contar
seus segredos de nascidos
sente neles seu temor
lado a lado com o risco
que escreve seu amor

temes ver ondas morrer na
terra onde estás,
e vem dizer em conchas
teu ser
a terra como está

calem, entre os peixes que
te comem o ar
calem, entre os peixes que
te comem o ar

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Tempestade em Viena

descobri o que eu sinto
assumi qualquer coisa
ai de mim,
ai de mim, sem ter nada o que tocar
sinto vontade de gritar
num desespero
num desprezo
ai de você
ai de você, pessoa tão comum
mais um dia
outra noite
mais um gole não importa
luz que se acende para os outros
que se apague para mim

você não me olha
mas
que mal fiz a você?

tanto fez,
tanto faz,
o vento bate em minha janela
e o silêncio sorri
para mim
existe um ponto forte em você
com poucas e doces palavras
você se assusta
e me arranha
por que temer viver só
já que morremos sozinhos

você não me engana mais
todo mal
vem de você

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Senhora Feliz

as longas datas em que passei
perdido na cadência dos dias
são breves os dias em que alcancei
os doces olhos da senhora feliz
que acena o seu manto
e me diz venha cá

deixes ver
o que queres senhora
o riso e o gozo das alegres temporadas
que procura todo homem
como cego sem chão

abram suas alas à dama do explendor
se ouvir um grito de loucos ao redor
eles são teus filhos, muitos filhos são
senhora feliz

és a mãe de um crime, senhora feliz
bom e generoso
e sorris
quando esbofeteias e ofendes o corpo
com os dias
feliz velho
feliz criança
senhora feliz

pisei em vão na longa estrada
perdido na estrela furtiva
que sobe e desce na madrugada
como um pássaro ferido
que estremece o seu vôo
nos lençóis que virgem amou
abra as asas
como um leque senhora
seja o abrigo e beijes
as esperanças vadias
que encontram tuas garras
procurando por tua mão

palmas, muitas flores
imagens de pavor
se ouvir um grito de loucos ao redor
eles são teus filhos, muitos filhos são
senhora feliz

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A Pele

agarra o fim
que animarei
onde a pele
seja o quadro
que me deu o tom
esboço enfim
que em rima tem o revés, 
onde o chão
trinca quando o salto vê seu ar
trinca quando o salto vê seu mar
vida onde esconde o seu?
não soube errar
me dê seu lar

derrama em mim
que te alimentei
o afeto
longo parto
que me perdoou
suave diz
que a vida fez
do revés, novo ato
cortinas de teu sopro em minhas mãos
brinca como fogo ingênuo
beijas o meu corpo e diz
pode se levar
pode se levar

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Fogo

aonde você vai?
vê na pele o fogo
o fogo não me trai
envolto e incerto, de onde estou
de onde estou
não vejo você sorrindo
clamas ao anjo que ofertou
que ofertou
a primavera e o ninho
geme o céu
geme o céu
por onde estou

não se mostre demais
o tempo parte e traz
alguns tempos a mais
anos atenuam
anos atenuam

aonde você vai?
julho está caindo
a sorte não te trai
envolto e deserto
de onde estou, de onde estou
vejo você seguindo
sempre de perto com fervor
o furor
dos homens indo e vindo
geme o céu
geme o céu
por onde for

nâo se mostre demais
o tempo parte e traz
alguns tempos a mais
anos atenuam
anos atenuam

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Cinzas que Queimam

no tempo da espera
descubro o infinito
vislumbro o universo explodindo
dos múltiplos rogo único sentido
um grão de areia
é o que preciso

te levo em tuas mãos
beijos que ferem mas nunca ofendem
te levo pelo mar
chamas que queimam e nunca se sentem
(nosso mar)

no tempo da espera
do desespero ao vício
as mãos na cabeça explodindo
dos múltiplos faço um único pedido
grão que brilha
fique comigo

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Canção da Torre Mais Alta

venha, venha o tempo
que nos enamora.

de pacientar
para sempre esqueço.

temores e dores
aos céus já se foram.

e a sede malsã
me obscurece as veias.
venha, venha o tempo
que nos enamora.

assim a campina
entregue ao olvido,
extensa, florida,
de incenso e de joios
ao zumbir sinistro
das moscas imundas.

venha, venha o tempo
que nos enamora.

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A Verdade Simples

cem léguas de milhas ao redor
encontro as lembranças de ninguém
a morte, a sorte são fortes
ressurgem no ninho e vivem

são tão livres
podes vir também
são tão livres

a sombra de sonhos ao vento
nos traz a fortuna de alguém
que em close minh'alma decifrou
a leitura dos dias que vierem

são tão simples
deves vir também
são tão simples

insiste o tempo, a vida
insípido tempo habita
a face
a base
séquito verás

cem léguas de milhas ao redor
encontro as lembranças de ninguém
a sorte e a morte são fortes
ressurgem no ninho e vivem

são tão livres
deves vir também
são tão livres

na sombra de sonhos apegou
a paz e a lisura de alguém
que em close minh'alma decifrou
a leitura dos dias que vierem

são mais simples
deves ir também
são mais simples

insiste o tempo, a vida
insípido tempo habita
a face
a base
séquito verás

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Pecados

hoje não me espere
não estou por perto
hoje não suspeite
não estou bem certo
e não se faz, algo mais
eviteis
e não se faz, muito mais
eviteis

ontem te persegue
por muito perto
outrem não te sentem
se está por perto
um pouco mais, algo mais
eu brindei
um pouco mais, muito mais
eviteis

amanhã
peca a luz em seu nome
amanhã peca o pai
amanhã, peca a luz em seu nome
agora
quem vier

foges displicente
ao estar por perto
ontem te persegue
eu estou bem certo
se já não vais, logo mais
eu não sei
se já não vais, logo mais
eviteis

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belos e malditos

belos e malditos
hereges heróis
percorrendo campos verdes
aonde as flores
devem crescer
belos e malditos
aonde têm estado
percorrendo campos verdes
aonde as flores devem morrer

porcos e suíços
precisos
por onde movem vocês
os imortais devem morrer

belos e malditos
aonde têm estado
percorrendo campos verdes
aonde as flores...
belos e malditos
aonde têm estado
perdendo o sangue quente
em espelho
mundano e aparente

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Tempo que Passa

agora eu sei
que o tempo é triste e nunca
hesita
em levar e trazer sem dizer
que a vida
exala e floresce de cada corpo
que murcha
e árido se sufoca
se devora

aonde quer que eu vá
agora
vejo nada ao redor
piso as flores desse jardim

veja, isso já não faz sentido
veja, isso fere meus olhos
veja, isso me faz morrer

você que cospe a confissão
e chora o delírio da vida
você que diz que é amigo
e rouba a minha sombra
já é tarde demais
todos os traidores já foram enforcados
mas existe uma ponta nessa corda
aonde você possa se segurar
aonde você possa se pendurar
até o fim da sua vida
ou que alguém o abençoe

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Em Torno da Mesma Volta

criar paixões e destruí-las
cavar um poço e nascer um oceano
onde eu possa nadar na cor e no movimento
que ondas venham e me afoguem
mas ainda tenho fôlego
para encontrar uma ilha
onde descansarei pensando
nas marés
marés e tesouros perdidos
marés e tesouros que furtam o sangue
ouço o canto da sereia
me chamando para uma nova cilada
que como a vida
vingança eterna
selará a sorte
dos amores que tenho
dos amores
e eu, como palavra cega
como palavra
nunca os ouvi

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© 1999-2000 - Fabio Magnani




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